Johan Cruijff(2)

Seleção

Cumprimentando o capitão argentino, Roberto Perfumo, na Copa de 1974. Contra os argentinos, Cruijff marcou seus dois primeiros gols em Copas. Na foto, pode-se notar as peculiares duas listras laterais de seu uniforme.
Estreou pelos Países Baixos em 1966, aos dezenove anos, em jogo contra a ainda respeitada Hungria, em partida válida pelas eliminatórias para a Eurocopa 1968, logo marcando um gol.[6] Cruijff transfomaria a Seleção Neerlandesa, então modesta, em uma potência mundial.[7] Mas isso ainda demoraria a ocorrer: o país não se classificaria para as fases finais da própria Euro 1968 [32] e também da de 1972,[33] e o mesmo para a da Copa do Mundo de 1970 - cujas eliminatórias deram-se em um período em que ele ainda não havia se firmado na Oranje, que, para o mundial do México, perdeu a vaga para a Bulgária.[34]
Com a base titular da Seleção formada pelos jogadores dos continentalmente vitoriosos Feyenoord (Wim Jansen, Willem van Hanegem e Wim Rijsbergen) e Ajax (Arie Haan, Ruud Krol, Johan Neeskens, Johnny Rep e Wim Suurbier, além do próprio Cruijff, já barcelonista no mundial), que no período entre 1970 e 1974 deixaram a taça da Copa dos Campeões da UEFA nos Países Baixos,[17] o conjunto, ainda que desunido - os jogadores de um time não costumavam conversar com os do rival,[35] e Cruijff não esconderia isso no livro Futebol Total, que ele publicaria ainda naquele ano [36] - finalmente obteve a classificação para a Copa do Mundo de 1974. Cruijff, já treinado por Rinus Michels no Barcelona, o seria também na Oranje na competição. O treinador não hesitou em transportar para a Seleção o rodízio que funcionara bem no Ajax de ambos. O chamado "futebol total" do Ajax transfomar-se-ia para os olhos do mundo no "Carrossel Holandês" no torneio:[7] um grupo de grande talento que trouxe inovações para a época como a valorização da troca de passes e posse de bola, a linha defensiva de impedimento e marcação firme,[37] tentando roubar a bola ainda na intermediária adversária.[38]
Cruijff era um jogador à parte no elenco laranja (cuja equipe-base era formada também pelo goleiro Jan Jongbloed e pelo atacante Rob Rensenbrink, de outros clubes), o que se traduzia inclusive no uniforme: enquanto a numeração do restante do elenco foi escolhida conforme a ordem alfabética neerlandesa dos sobrenomes, fazendo o goleiro titular Jongbloed jogar com o número 8, Cruijff pôde utilizar o seu número favorito, o 14. E, mais visivelmente, enquanto os demais jogadores exibiam as três listras laterais da Adidas (saída encontrada pela empresa para a sua divulgação, uma vez que logomarcas ainda eram proibidas de serem estampadas nas camisas), as roupas dele continham apenas duas, imposição de sua patrocinadora particular (uma então novidade), a rival Puma.[39]
Lance do jogo Países Baixos x Alemanha Oriental, na segunda fase da Copa do Mundo de 1974. Cruijff, com seu número 14 e a braçadeira de capitão, é o quarto jogador neerlandês da esquerda para a direita. Todos os colegas exibiam as três listras laterais da Adidas, ao contrário dele
O espírito um tanto "mercenário" não foi uma exclusividade sua na Copa, contagiando todo o elenco, que passava mais tempo discutindo termos, condições e prêmios do que debatendo sobre táticas.[35] Mesmo um dos únicos que não reclamaram do já alto prêmio de 25 mil florins dado aos jogadores pela classificação à final, Neeskens, declararia que seu objetivo no mundial era melhorar a própria cotação "no mercado futebolístico internacional".[7] Um dos motivos para que Jan van Beveren, goleiro do PSV Eindhoven na época e tido como o melhor neerlandês da história na posição, ficasse de fora da Copa, mesmo tendo sido o titular nas eliminatórias, foi justamente as suas críticas a esse comportamento de seus colegas, sendo ainda grande desafeto de Cruijff.[40]
No mundial, o país lideraria seu grupo na primeira fase após vencer Uruguai (2 x 0) e Bulgária (4 x 1, uma vingança contra a seleção que havia tirado a vaga nos neerlandeses no mundial anterior) e empatado em 0 x 0 com a Suécia - em que ele passou a bola por trás de suas pernas após ameaçar cruzar, deixando o zagueiro sueco que tentara impedir o suposto cruzamento, Jan Olsson, chutar o ar.[8] O sistema tático também assombrava: enquanto os demais times ainda utilizavam posições fixas, era possível ver o ponta-esquerdo Rep atuando defensivamente na marcação do lado direito, o lateral Krol avançando ao ataque ou o meia ofensivo Haan jogando na zaga, o que desnorteava os marcadores adversários. Neeskens, teoricamente o jogador com mais tarefas defensivas no time, além de fechar espaços aos oponentes, também mostrava habilidade para iniciar ataques.[37]
A segunda fase (também disputada em grupos de quatro países, e não em mata-matas) seria mais avassaladora. Cruijff marcaria pela primeira vez, fazendo dois gols na primeira partida, contra a Argentina, que levou de 0 x 4. Os neerlandeses depois venceriam a Alemanha Oriental por 2 x 0, chegando à última rodada com a vantagem do empate contra o detentor do título, o Brasil (que tinha menor saldo de gols, tendo vencido os mesmos adversários por 2 x 1 e 1 x 0, respectivamente). Em uma verdadeira batalha campal,[35] a "Laranja Mecânica" aniquilaria os campeões por 2 x 0, com Cruijff dando assistência para o primeiro gol (de Johan Neeskens) e marcando o segundo,[7] e a Seleção Neerlandesa tornava-se a primeira a vencer em uma Copa as três potências sul-americanas.[8] A final seria contra os anfitriões, outros alemães, os da Alemanha Ocidental.[7]
A Seleção Neerlandesa enfileirada antes do início da final da Copa de 1974. Cruijff é o último jogador, da esquerda para a direita. Os demais jogadores foram numerados por ordem alfabética - ao seu lado, pode-se ver o goleiro Jan Jongbloed com o número 8.
Mal dado o início da partida, Cruijff correu com a bola, após um minuto em que ela esteve de posse ininterrupta dos visitantes, até ser derrubado por Uli Hoeneß na entrada da área alemã, cavando pênalti inexistente que seria convertido por Neeskens. Os neerlandeses mantiveram uma pressão inicial, buscando pegar a bola já na defesa alemã, deixando inclusive Franz Beckenbauer sem alternativas a partir do meio de campo em certos momentos.[38] No restante do jogo, porém, Cruijff deixar-se-ia anular facilmente por Berti Vogts e os alemães conseguiriam virar a partida e ficar com a taça. A explicação para a sua atuação aquém do esperado estava na bastante mal-dormida noite anterior: Cruijff, que prezava a família segura que perdera aos doze anos, passara a véspera da partida procurando convencer sua esposa, Danny, de que era falsa a notícia divulgada pelo jornal alemão Bild-Zeitung de que ele teria feito festa no hotel regada a champagne e garotas de programa. A derrota não abalou sua característica rebeldia e petulância: chegou a pedir para a rainha Juliana dos Países Baixos, ao encontrá-la na recepção real aos vice-campeões mundiais, que reduzisse os impostos.[8]
No livro Futebol Total, ainda em 1974, Cruijff antecipou que não iria para a Copa do Mundo de 1978. Porém, continuou a atuar pelos Países Baixos até meses antes do torneio, o que incluiu participação na Eurocopa 1976 (onde ficou em terceiro) e nas eliminatórias para o que teria sido seu segundo mundial.[6] Mas, de fato, acabou não indo à Argentina, o que foi por muito tempo interpretado como um protesto à ditadura militar naquele país;[41] trinta anos depois, foi revelado o real motivo: ele afirmou que, já em 1978, sofrera uma tentativa de sequestro e, temendo novos ataques, contratou seguranças particulares por um ano e meio.[41] A confusão conjugal que tivera pouco antes da final de 1974 também teria-lhe motivado a não ir para a Copa de 1978; um dos livros escritos sobre a Seleção Neerlandesa de 1974 defende que o incidente reportado pelo Bild teria sido decisivo para a perda daquela Copa e também da de 1978, por Cruijff não ter ido a esta.[8]

Como técnico

Imagem atual de Cruijff, em 2009.
Na nova função, obteve sucesso. Dois anos após parar de jogar, pelo Feyenoord, voltou ao Ajax para comandar seu ex-clube à beira do gramado. Ficaria por duas temporadas, mas não conquistaria o campeonato neerlandês no período, em que o clube hegemônico nele foi o PSV Eindhoven.[12] Tentou reintroduzir o estilo do "futebol total", mas só confundiu os jogadores, já desabituados com o sistema. Não escondia que priorizava desenvolver novamente o futebol do clube, desde as divisões de base, a ganhar logo títulos.[8] Ainda assim, comandou Van Basten, Rijkaard e o jovem Dennis Bergkamp na conquista da Recopa Europeia de 1987,[42] faturando também as Copas nacionais do mesmo ano e do anterior. Van Basten marcou o gol do título europeu após ouvir dizeres nada sutis do técnico: "se você não vencer, eu destruo você".[43]
No ano seguinte, os Países Baixos finalmente conquistariam um torneio, a Eurocopa 1988, sob o comando de Rinus Michels, o método conjunto de ambos e jogadores que haviam jogado com Cruijff, dentre eles o trio Gullit-Van Basten-Rijkaard. Talvez por isso tenha sido contratado em 1988 por seu outro ex-clube, o Barcelona. Planejou nos blaugranas o mesmo trabalho desde as divisões de base que fizera no Ajax, priorizando a aprendizagem dos jogadores em vez da obtenção de resultados imediatos.[8] Sua maior crise no período em que ficaria no Barça não seria resultados dos gramados e sim um infarto que quase o matou, em 1991, muito provavelmente consequência dos cigarros que inveteradamente fumava; o ataque o obrigou a implantar pontes de safena.[7]
No Barcelona, ficaria oito anos, quebrando o recorde de permanência no cargo.[7] Os frutos no Espanhol vieram a partir da terceira temporada. Decadente no torneio nos anos 1980, em que o conquistara apenas uma vez (em 1985), com Cruijff o Barça levaria a liga quatro vezes seguidas, a partir de 1991.[26] Antes disso, a equipe já havia levado a Copa do Rei de 1990 e,[28] no ano anterior, a Recopa Europeia.[44] Em 1992, o clube seria pela primeira vez campeão da Copa dos Campeões da UEFA, batendo na final a Sampdoria, o mesmo adversário vencido três anos antes na Recopa.[44] O único gol foi marcado por um compatriota trazido por ele, Ronald Koeman.[45]
Dois anos depois, com outro reforço trazido por ele do futebol neerlandês (ninguém menos que Romário, que jogava no PSV), o clube teve a oportunidade do bi contra outros italianos, os do Milan, que levara a melhor na Supercopa Europeia de 1989. Favorito, o time de Cruijff acabaria goleado por 0 x 4.[46] O Barcelona não voltaria mais a ganhar títulos por um tempo [8] e ele acabaria saindo em 1996, não sem antes afastar do clube o próprio Romário e o búlgaro Hristo Stoichkov, cujas personalidades também fortes foram de encontro com a dele.[7] Outras estrelas mundiais que saíram, por não se adequarem ao posicionamento que Cruijff escolhia para elas, foram o inglês Gary Lineker (em 1989)[47] e o romeno Gheorghe Hagi (em 1996).[48] O dinamarquês Michael Laudrup foi outro a se aborrecer com o técnico, por ter sido o estrangeiro escolhido para não ser escalado na final da Liga dos Campeões de 1994 (devido ao limite de três estrangeiros existente na época, Cruijff teve de usar apenas Romário, Stoichkov e Koeman [46]), aceitando logo depois proposta do Real Madrid.[49]
Em meio ao seu período de glórias como técnico do Barcelona, Cruijff chegou a ser chamado para treinar os Países Baixos na Copa do Mundo de 1994, mas achou a oferta pouco atrativa e recusou. Sua saída do cargo de técnico do Barcelona foi turbulenta: quando soube que seria substituído, jogou uma cadeira na porta do escritório do cúpula barcelonista e vociferou que "Deus o punirá por esta ação, da mesma forma que o puniu antes!", em referência a um neto recém-falecido do presidente. A despeito da saída conturbada, sua influência é mais forte no ali do que na terra de origem, o que inclui seu poder nos bastidores: o clube contratou Frank Rijkaard em 2003 por indicação dele.[8] Mesmo sem o mesmo reconhecimento nos Países Baixos, sua bênção também foi aceita na Seleção Neerlandesa, que contratou outro pupilo seu, Van Basten, como técnico em 2004.[50]
Em novembro de 2009, acertou sua volta à função, agora como técnico da Catalunha,[51] cuja seleção não é reconhecida pela FIFA e costuma fazer partidas apenas anuais. Em seu primeiro jogo, o treinador obteve um ótimo resultado, vendo a Seleção Catalã vencer a Argentina por 4 x 2.[52]

Legado

Países Baixos

No futebol dos Países Baixos, há o antes e o depois de Cruijff. Graças à geração simbolizada por ele, a Seleção Neerlandesa tornou-se uma das mais respeitadas do mundo. Atualmente, entretanto, não é nas ideias dele que o jogo da Oranje se baseia. Arthur van den Boogard, cronista esportivo do país, chamou isso de "pós-Cruijff".[50] O revolucionário, que já não era uma unanimidade, teve sua imagem sendo abalada conforme seus pensamentos não vinham mais se adequando à realidade do futebol atual, como a falta de necessidade de alas. Também perdeu popularidade como comentarista esportivo nos programas televisivos do país, função que desempenhara com sucesso na década de 1990.[7][8]
Sua obsessão pelo bem-estar do futebol nacional fez Cruijff chegar ao extremo de fazer declarações de repúdio à então ministra da imigração do país, Rita Verdonk. Conhecida por sua política restrita na concessão da cidadania neerlandesa, a ministra não a concedeu a Salomon Kalou. Às vésperas da Copa do Mundo de 2006, o jogador vinha recusando as convocações de seu país natal, a Costa do Marfim - classificada para o mundial e que contava com seu irmão, Bonaventure - pois desejava atuar pelos Países Baixos, mas para isso necessitava de um processo acelerado para poder naturalizar-se. Apesar dos apelos do técnico Marco van Basten, que via nele uma boa alternativa a Arjen Robben e Robin van Persie, a ministra declinou, Kalou ficou de fora da Copa e posteriormente decidiu aceitar a Seleção Marfinense. Cruijff culparia Verdonk quando os neerlandeses foram eliminados: "Quero dizer que um ministro está a serviço do interesse do país, e está claro que ela (Verdonk) não fez isso".[53][54]
Sua reputação ainda piorou após uma breve passagem na direção do Ajax, em fevereiro de 2008, um ano após ter sido homenageado no clube com a aposentadoria da camisa 14, que ele utilizava.[2] Cruijff apareceu proclamando-se o salvador do time, gerando uma onda de comoção. Toda a direção do clube renunciaria no dia seguinte, deixando o Ajax nas mãos do ex-craque. Com a ideia de novamente reorganizar o clube desde as categorias de base do time, pediu a demissão de todos os responsáveis pela queda de prestígio delas. Ao fazer isso, acabou desentendendo-se com o pupilo Marco van Basten, chamado por ele para ser o técnico do elenco principal. Cruijff então concluiu, dezessete dias após sua manifestação, que não tinha mais nada a fazer no clube.[50]
A preocupação dele em relação aos rumos das categorias inferiores tinha fundamento: o Ajax havia parado de revelar talentos na quantidade e qualidade que havia no início da década de 1990, quando colheu os frutos da organização profunda feita por Cruijff; boa parte do time que conquistou a Liga dos Campeões da UEFA de 1995 (o quarto e último título do clube no torneio, que ganhou o novo nome em 1993) era formada por jovens que estavam nas divisões de base que ele tanto priorizou quando técnico. Quem sobrevivia às loucuras de Cruijff - ele, por exemplo, chegou a usar atacantes natos como Dennis Bergkamp na zaga para fazê-los aprender como o adversário pensa, e também trouxe um tenor para ensinar uma melhor respiração aos jogadores [8] - parecia destinado a ter destaque futuro: do time campeão europeu naquele ano, haviam sido formados no clube no período dele na comissão técnica Michael Reiziger, os irmãos Frank e Ronald de Boer, Clarence Seedorf, Edgar Davids e Patrick Kluivert (que revelou ter passado pela mesma situação de Bergkamp[55]). Outra joia da casa era Frank Rijkaard, de volta após não ter aguentado na época os pensamentos do técnico.[8]
Seu desprezo pelo futebol sem espetáculo faria com que ele, desgostoso com o rumo tomado pelo futebol neerlandês, declarasse que iria torcer contra o próprio país na final da Copa do Mundo de 2010.[56] O adversário foi a Espanha, repleta de jogadores do Barcelona e aproveitando-se da filosofia deste clube - ambos promovidos por Cruijff anos antes.[57]
No final de março de 2011, o que ele provocara três anos antes no Ajax voltou a acontecer: toda a diretoria, incluindo o presidente do clube, entregou seus cargos por discussões com Cruijff. Ele clamava por uma radical reestruturação no organograma da instituição, com decisiva participação de ex-jogadores do time. Desta vez, obteve apoio deles - Frank de Boer, Dennis Bergkamp, Wim Jonk (que cuidariam em conjunto da reformulação técnica da equipe), Danny Blind (técnico que seria realocado), Aron Winter, Barry Hulshoff, Keje Molenaar e Peter Boeve (que já haviam sido eleitos para o conselho deliberativo por pressão de Cruijff).[58]

Barcelona

Cruijff nas tribunas do Camp Nou, em 2009.
Se o Ajax deixara os projetos iniciados por Cruijff de lado, no Barcelona, onde ele procurou realizar a mesma obra, foi diferente: atualmente, a academia barcelonista conta com doze equipes, cada uma com até 24 jogadores. A maioria dos técnicos são licenciados pela UEFA para dirigir as categorias inferiores do Barça, consideradas as maiores produtoras de jogadores de alto nível, chegando a levar até 15 anos para formar um atleta. "Talvez o maior legado de Cruijff seja a metodologia que ele trouxe para o clube", disse José Ramón Alexanko, membro do chamado Dream Team campeão europeu sob o comando dele em 1992.[57] Segundo o próprio Cruijff, a filosofia a ser seguida era a de que, como há sempre uma pessoa por trás do jogador, ela "precisa ser educada na técnica do jogo, no caráter e na inteligência".[59]
De acordo com Alexanko, o Barcelona continua a procurar jogadores "pela excelência técnica, força mental, ritmo e rapidez de raciocínio em campo. A maioria dos jogadores que cabe nessa categoria já está jogando como atacante e nós depois os transformamos em zagueiros, geralmente quando eles têm 16 anos (…). Um jogador também deve amar o distintivo do clube, as cores da camiseta".[57] Jorge Valdano, diretor de esportes do arquirrival Real Madrid, declarou que "Cruijff deixou no Barcelona um testamento ideológico, trabalhado sobre o gosto futebolístico do espectador, a quem ele educou. (...) A ponto de que hoje é impossível triunfar no Barcelona sem jogar bem o futebol. Em Barcelona, ele é como o oráculo."[3]
Josep Guardiola, um dos garotos levados diretamente por Cruijff ao time principal e também integrante do mesmo elenco campeão, sintetizou a metodologia do ex-técnico:

Cquote1.png "os jogadores têm de pensar rápido e jogar com inteligência, sempre sabendo qual será o próximo passe (…). É assim que aprendemos a jogar e que o público espera que joguemos: de forma atraente, mas sem perder a eficiência (…). Cruijff (…) nos ensinou a jogar movimentando a bola rapidamente. Ele só usava jogadores de grande técnica. Quando procuramos por jogadores, ainda queremos essas qualidades".[57] Cquote2.png

Dentre outros levados diretamente por Cruijff (que inauguraria também a boa relação do clube com futebolistas e técnicos neerlandeses) ao time principal, os mais famosos são Albert Ferrer, Carles Busquets, Thomas Christiansen e Sergi Barjuan, além de seu filho Jordi Cruijff. Com o progresso das canteiras do clube iniciado por ele, o Barcelona lançaria após a sua saída também Carles Puyol, Pepe Reina, Thiago Motta, Albert Luque, Xavi Hernández, Andrés Iniesta, Víctor Valdés, Oleguer Presas, Lionel Messi, Cesc Fàbregas, Gerard López, Mikel Arteta, Luis García, Giovani dos Santos, Bojan Krkić, Gerard Piqué, Fran Mérida, Sergio Busquets, Pedro, dentre outros.[57] Guardiola tornaria-se técnico de grande sucesso comandando alguns destes jovens, promovendo um jogo ofensivo e de toques de bola independentemente da força do adversário e do local da partida, no que ele atribui aos ensinamentos que teve do neerlandês: "Ele foi a bandeira. Agora que essa ideia está instaurada, o difícil é mantê-la, mas a culpa de tudo isso é do Cruijff".[60]
A Seleção Espanhola de Futebol seria campeã da Copa do Mundo de 2010 utilizando como base os jogadores e a filosofia da posse de bola do Barcelona (Puyol, Xavi, Iniesta, Piqué, Valdés, Busquets, Pedro, Fàbregas e Reina estiveram no elenco campeão;[61] os quatro primeiros foram titulares, e Puyol - na semifinal - e Iniesta - na final - marcaram os gols decisivos [62]), promovidos por ele, a ponto de dizer-se que tal estilo de jogo, do Barcelona e da Espanha, seriam uma versão latina da Laranja Mecânica de 1974.[59]
Também em 2010, a cúpula do Barcelona, em reconhecimento aos serviços prestados por Cruijff tanto como jogador quanto como técnico e consultor, nomeou-lhe presidente de honra da instituição.[63] Todavia, a honraria lhe foi retirada meses depois, pelo recém-eleito presidente do clube, Sandro Rosell. Rosell justificou-se que a decisão do mandatário anterior, Joan Laporta, fora antidemocrática, sem consulta aos sócios.[64]

Além dos gramados

Cruijff batizou um planetóide, o de número 14282.[65] Em 8 de julho de 1974, semanas após o vice-campeonato na Copa do Mundo de 1974, Cruijff foi condecorado com a classe de cavaleiro da Ordem da Casa de Orange.[2] Ele também é membro honorário da Real Associação de Futebol dos Países Baixos e do Ajax.[2] Foi eleito em 2004 o sexto maior neerlandês da história, estando à frente de nomes como Anne Frank, Rembrandt e Vincent van Gogh.[66]
Além do futebol, aprecia também jogar golfe.[2] Na década de 1970, ele chegou a gravar uma música de relativo sucesso nas paradas neerlandesas, "Oei Oei Oei (Dat Was Me Weer een Loei)" - em português, "Oi Oi Oi (Que belo chute)", que foi relançada após sua transferência para a Espanha, onde foi ainda mais popular.[8] Seus maiores ídolos musicais são Nat King Cole, The Beatles e Richard Clayderman. Ele é casado com Danny Coster desde antes da fama internacional, em 1968, e a considera a pessoa mais importante da vida: "Sem ela eu teria cometido tantos erros... ela me mantém no caminho certo".[2] O casal escandalizava a conservadora sociedade espanhola nos tempos franquistas, em que agiam como jovens europeus modernos, fumando e usando cabelos compridos (no caso de Cruijff) e minissaia (no caso da mulher).[3] Teve três filhos com ela: Chantal, Susila e Jordi.[2]
Também era rebelde nos campos espanhóis, desafiando árbitros e policiais. Identificou-se tanto com a cultura catalã que batizou o filho caçula com a versão local do nome de São Jorge, o santo padroeiro da região, além de viver até hoje na cidade. Fala espanhol com sotaque catalão, exagerando no som do l.[3] Ele também fala, além do neerlandês materno, inglês (que aprendeu como autodidata com os técnicos britânicos que passaram pelo Ajax na década de 1950 [8]) e compreende catalão e alemão. "Sou um cara do mundo. (...) Por que tenho de me fechar? Eu quero abrir ao invés de fechar. É preciso ter mais visão", declarou ao ser questionado porque ainda usa mais o espanhol ao catalão em entrevistas.[3] "Não tive uma educação muito longa; tudo que aprendi foi na prática, inclusive o inglês", afirmou.[8]

Fonte: Wikipedia.