O Conceito

Os últimos tempos deixaram-me a pensar. Será que o futebol ainda se joga dentro das 4 linhas com 11 jogadores para cada lado, que lutam por uma bola, com o objectivo de marcar golos? E o árbitro é um mero fiscal que deve interferir o menos possível no jogo? Começo a ter dúvidas sobre este conceito tradicional de futebol. É óbvio que os tempos mudam, e o futebol também tem que evoluir. Mas será que a evolução está correcta? Vejamos:
- Actualmente, os jogadores estão mais preocupados com o objectivo central do jogo, que é marcar golos, do que proporcionar um bom espectáculo. O importante é marcar golos, independentemente da forma como o fazem. Desde que a bola entre, está tudo bem, especialmente se o árbitro validar esse golo;
- A bola deixou de ser redonda, na maioria das vezes. Isto é: em vez de se olhar para a bola e disputá-la, olha-se para a canela do adversário e para qual o melhor modo de a atingir. Com sorte o árbitro não vê;
- Os árbitros por sua vez, interferem cada vez mais no jogo e no seu resultado. Cortam jogadas, marcam faltas de forma muito subjectiva (as cores da camisola ajudam a explicar), interferem em lances limpos, trocam os pés pelas mãos, tomam decisões precipitadas, etc, etc.;
- Mas os jogadores não ajudam a tarefa do árbitro: tentam a todo custo esconder as faltas dos árbitros e nunca admitem que erraram; ameaçam os árbitros verbal e fisicamente como se de um jogo de boxe se tratasse; perderam o respeito pelos árbitros e não o escondem; e nunca são castigados pelos seus treinadores e clubes, que apadrinham este teatro;
- Mas actualmente, outros elementos entraram em campo: os dirigentes dos clubes e das entidades reguladoras do futebol em Portugal. Afinal parece que são estes que decidem quantos golos uma equipa marca ou quantos pontos pode ganhar. Parece que o telefone passou também a ser considerado campo de futebol. E os árbitros são as linhas de comunicação.
O futebol em Portugal está assim, ou ainda pior. Os jogos mais parecem combates de Wrestling, onde tudo vale e a única regra parece ser a de sair imune. Dentro das 4 linhas a coisa não vai bem, mas fora também não está melhor, porque em Portugal temos que consideram o futebol numa perspectiva maniqueísta: de um lado o futebol de campo, do outro o futebol dos bastidores. E todos saiem impunes, como se tudo estivesse bem.
Quem fica a perder são os adeptos. Aqueles que gostam do futebol enquanto espectáculo. Aqueles que decidem ir aos estádios e apoiar a sua equipa. Aqueles que torcem, que gritam, que vibram.
 

Fonte: Ser, fazer, sentir.