Alfredo Di Stéfano(2)

Real Madrid

Ao lado do parceiro de Real Madrid e amigo Ferenc Puskás.
O Barcelona o negociara com o clube que oficialmente detinha de seu passe, o River Plate.[23] Di Stéfano já havia participado de três amistosos pelo Barcelona quando o Real Madrid entrou na disputa por ele: o clube da capital falara diretamente com o Millonarios e passou a considerar-se também dono da joia rara.[23] O ministro dos esportes, General Moscardo, apresentou sua solução: o argentino faria temporadas alternadas por cada equipe por quatro anos - começando pelo Real. O acordo foi rejeitado pelo Barça, e Di Stéfano acabaria ficando no Real.[23]
A polêmica mudança dele para o Real fez o Barcelona sentir-se traído. A rivalidade entre as duas equipes, sem tanta força até então - outros ex-jogadores do clube, como Ricard Zamora e Josep Samitier, já haviam jogado sem maiores problemas na equipe madrilenha nos anos 1930 -, começaria aí,[3] aumentando com o passar dos anos devido às conquistas em série que o Real conseguiria com ele liderando o clube em campo. Antes de Di Stéfano chegar em 1953, o clube da capital não era o maior vencedor do país, nem mesmo da cidade: tinha dois títulos no campeonato espanhol, mas conquistados havia mais de vinte anos. No momento, o Barcelona (seis), Atlético Bilbao (cinco), Atlético de Madrid (quatro) e Valencia (três) possuíam mais conquistas em La Liga.[1][26]
Pois com Di Stéfano em sua primeira temporada, o Real conquistaria seu terceiro título, muito por conta dos 29 gols que deram a artilharia do torneio ao argentino.[27] Um bicampeonato seguido viria na segunda temporada.[27] Em 1955, ele e o Real ganhariam também a Copa Latina, o mais prestigiado torneio europeu de clubes na época, que reunia os campeões de Espanha, França, Itália e Portugal.[28] Os espanhóis venceram os portugueses d'Os Belenenses e, na final, os franceses do Stade de Reims.[28]
Junto com outros dois colegas de Real Madrid: Isidro (sentado) e José Santamaría (entre eles).
O segundo título espanhol com Di Stéfano, por sua vez, credenciou o Real Madrid a ser o primeiro representante da Espanha na Copa dos Campeões da UEFA, que teria sua primeira edição na temporada europeia de 1955/56.[29] Nesta temporada, os merengues perderiam o título espanhol para o Atlético Bilbao, mas com ele faturando novamente a artilharia [27] e, o mais importante, com os blancos conquistando a primeira edição do novo torneio europeu. A vitória na final foi em novo confronto sobre o Reims. Di Stéfano marcou um dos gols, diminuindo momentaneamente a vitória parcial do adversário para 2 x 1, com menos de quinze minutos de jogo.[30] A taça viria para a Espanha após o time vencer de virada por 4 x 3.[30] Também para a sede de clube viria um jogador adversário, Raymond Kopa, contratado após a partida.[31]
A linha ofensiva com seu compatriota Héctor Rial, Kopa e o ponta da Seleção Espanhola Francisco Gento daria frutos na temporada 1956/57, com o Real vencendo novamente o Espanhol (com Di Stéfano novamente na artilharia)[27] e conseguindo um bi na Copa dos Campeões. Di Stéfano e Gento marcaram uma vez cada nos 2 x 0 sobre a Fiorentina.[32] O Real venceu também a última edição da Copa Latina, que se encerraria justamente por perder seu prestígio frente à Copa dos Campeões.[28] Desta vez, os batidos foram o Milan, com um 5 x 1, e, por 1 x 0 com gol de Di Stéfano, o Saint-Étienne.[28]
Aquela temporada também ficou marcada por ele ter passado a defender a Seleção Espanhola,[33] como Rial já vinha fazendo. A temporada que se seguiu viu o Real igualar-se a Barcelona e Atlético Bilbao como o maior vencedor da Liga Espanhola [26] e com Di Stéfano novamente artilheiro dela.[27] A continuação houve também na Copa dos Campeões: pela terceira vez seguida, a taça veio para o Real após vitória apertado 3 x 2 (com ele marcando o primeiro gol merengue) em reencontro com o Milan, que contava com jogadores consagrados como Nils Liedholm e Juan Alberto Schiaffino, em uma decisão.[34]
Se as duas temporadas seguintes viram o Barcelona retomar por um tempo a dianteira na Liga, conquistada pelo clube em ambas,[26] elas também viram o Real continuar sua dominação continental. Na primeira, com Di Stéfano novamente artilheiro do Espanhol,[27] o troféu europeu foi levantado após nova vitória, agora por 2 x 0, na final sobre o Stade de Reims, com ele marcando o segundo gol.[35] A segunda seria a mais memorável: primeiro, por um time contar pela primeira vez com o astro Ferenc Puskás na final (uma lesão tirou o húngaro da decisão anterior). Segundo, por ter eliminado nas semifinais seu novo rival, o Barcelona, com duas vitórias por 3 x 1 em que Di Stéfano marcou duas vezes na primeira.[36] A terceira razão foi a atuação magistral do argentino e do húngaro na final. A dor de cotovelo dos barcelonistas aumentava cada vez mais: o sucesso do Real pela Europa era usado a favor da ditadura de Francisco Franco, torcedor do clube e cujo governo fazia opressão oficial à manifestações culturais consideradas como "não-espanholas" - dentre elas, a catalã, a quem o Barcelona representava.[37]
Comemorando gol pelo Real Madrid.
A segunda decisão terminou em um 7 x 3 sobre o Eintracht Frankfurt, com La Saeta Rubia marcando três e Puskás, os outros quatro.[36] A final foi na Escócia,[36] e a performance foi descrita pelo jornal britânico The Guardian como "Fonteyn e Nureyev, Bob Dylan no Albert Hall, a primeira noite de Sagração da Primavera, Olivier no seu auge, o Armoury Show e a Ópera de Sydney, tudo isso em um só evento".[3] Os anos de ouro no cenário internacional terminariam na década com o Real faturando também a primeira Copa Intercontinental, com vitória de 5 x 1 sobre o Peñarol. Em menos de dez minutos, ele já havia marcado uma vez, e Puskás, duas.[38]
Os anos 1960 vieram com o clube recebendo o troco do Barcelona na Copa dos Campeões, com os rivais os eliminando na primeira fase do torneio de 1960/61.[39] Naquele ano, a equipe também perdeu Didi, que viera após a Copa do Mundo de 1958 como estrela, mas que não se firmara no Real. Di Stéfano chegou a ser responsabilizado pelo fracasso do brasileiro, a quem teria organizado um boicote. O argentino desmentiria isso em sua autobiografia, lançada em 2001, afirmando que seria natural não passar a bola a Didi, pois na verdade, como jogava mais avançado que este, deveria justamente receber os passes dele, e não o contrário. Acreditava que Didi, a quem reconhecia a excelência da técnica mas criticava um certo excesso de individualismo e exibicionismo, seria influenciado pela esposa, correspondente do Última Hora, que escrevia que o marido seria alvo do ciúme e inveja do argentino. Outro argumento contra a versão de Didi é a de que teria inclusive ajudado o novo colega a instalar-se na capital espanhola.[40]
Canário, outro brasileiro daquele Real Madrid, reforçou as palavras de Di Stéfano, declarando não ter havido boicote ao compatriota, e que na realidade o próprio Didi não conseguira encaixar-se no estilo do Real.[41] "A Guiomar (esposa de Didi) se metia em tudo. Naquele tempo, tinha a ditadura franquista, não se podiam dizer algumas coisas e ela falava demais. Ainda controlava o Didi. Ele ia do futebol para casa e não se relacionava com os outros", disse.[42] Didi manteve sua versão, além de negar os comentários dirigidos à mulher, até o fim da vida.[40] Já em 1973, Di Stéfano, em entrevista à revista brasileira Placar em 1973, contava uma história diferente da do brasileiro, similar à da que colocaria na autobiografia décadas depois:

Cquote1.svg Ele andou dizendo que eu não lhe passava a bola. Como? Eu jogava na frente e ele atrás; Didi é que tinha de passar a bola para mim. O problema é que, na Espanha, jogador de meio-campo que tenta jogar só com a bola no pé se dá muito mal. (...) Didi tinha problemas também com a mulher. Parece que ela não queria ficar em Madrid. Veja bem: quando ele chegou, tentei ser amigo e fiz de tudo para ajudá-lo, inclusive orientando-o quanto à maneira de vestir-se. Um frio de louco e o homem andava só de camisa. Depois, dizia que não podia se acostumar com o frio. Pudera! Mas, se ele realmente falou mal de mim, depois negou tudo. Uma vez, não me lembro onde, encontrei a Seleção Brasileira. Fui à concentração e Didi estava com o Gilmar e o Nilton Santos. Perguntei-lhe então o que tinha contra mim, por que dera entrevistas falando mal de mim. Ele, na frente dos companheiros, disse que era invenção dos jornalistas, que não havia falado nada. E ficou nisso.[8] Cquote2.svg
Sobre o suposto boicote a Didi

Um ano depois da queda prematura na Copa dos Campeões, os merengues voltaram à decisão continental: seria contra os portugueses do Benfica, justamente quem em 1960/61 derrotaram surpreendentemente o Barcelona na final.[39] Contra os encarnados, o Real chegou a estar vencendo por 2 x 0 e, posteriormente, por 3 x 2, mas o adversário conseguiu virar e vencer por 5 x 3.[43] Era a primeira vez que os madridistas perdiam uma decisão da Copa dos Campeões - e era também a primeira vez que La Saeta Rubia não marcava na final - os três gols do time foram de Puskás.[43] A perda da sexta taça europeia também impediu um triplete do Real, que já havia ganho na temporada o campeonato espanhol e também a Copa do Rei (então Copa do Generalíssimo) em 1962, a primeira e única vencida por Di Stéfano.[44] O torneio foi um dos poucos pontos negativos da carreira de Di Stéfano, que havia perdido, em pleno Santiago Bernabéu,[44] as outras três finais que dele disputara, contra os rivais Atlético de Bilbao (1958) e Atlético de Madrid (1960 e 1961).[44] Ele, por outro lado, só passou a poder disputar a competição depois que naturalizou-se, em 1957. Na época, apenas espanhóis podiam disputar a Copa espanhola.[45]
Os títulos domésticos de 1962 fizeram justamente parte de uma série de conquistas do clube na Liga Espanhola que o faria ultrapassar o rival Barcelona e tornar-se o maior vencedor do campeonato. Após conquistar cinco títulos continentais seguidos na década de 1950, o Real levantaria o Espanhol também cinco vezes seguidas entre 1961 e 1965.[26] A última das conquistas seguidas do Real no campeonato espanhol foi já sem Di Stéfano no elenco: já sem os mesmo números de artilheiro , Di Stéfano deixou em 1964 o clube cuja história mudara, insatisfeito após ser deixado no banco de reservas depois que o clube perdeu a final da Copa dos Campeões para a Internazionale;[4] novamente, ele não marcou na partida.[46]

Cquote1.svg Alfredo era meu amigo e companheiro de quarto nos hotéis e concentrações. Eu o admirava. Na realidade, me deixava de olhos arregalados cada vez que pegava na bola. Mas já tinha 38 anos e suas condições físicas não eram as melhores. Poderia ter continuado titular jogando somente como ponta, com um raio de ação limitado, como Ferenc Puskás, mas queria seguir estando em todos os lugares do campo. Não podíamos seguir assim[47] Cquote2.svg
Desabafo de Miguel Muñoz, ex-colega de Di Stéfano no Real e técnico da equipe no momento em que o ídolo saiu

Saiu do Real, mas não deixou de continuar como "inimigo" do Barcelona, até porque transferira-se para o outro rival deste, o Español, clube da cidade de Barcelona que tinha imagem de associado ao poder de Madrid.[48] Ali, atuou ao lado de outro húngaro, László Kubala, rotineiro ex-adversário de Barcelona, ex-colega de Seleção Espanhola e, curiosamente, outro que tornou-se célebre por defender três países.[49] Di Stéfano jogou duas temporadas pelo blanquiazul até encerrar a carreira, aos 40 anos, com, além de todos os troféus, mais de 800 gols marcados.[4] Em 1966, voltou a vestir o manto do Real Madrid para a sua partida de despedida, em amistoso contra os escoceses do Celtic.[2]
Até 2009, quando foi superado por Raúl, ele foi o maior artilheiro merengue em jogos oficiais, com 307 gols, com o detalhe de que o novo recordista necessitou jogar 685 vezes para superar a marca estabelecida pelo argentino (que totalizou seus gols em apenas 371 jogos pelo Real).[50] Uma das lendas que permaneceram no Santiago Bernabéu era a de que o estádio seria inclinado para a esquerda pelo fato de Di Stéfano ter jogado por bastante tempo naquela parte do campo.[14] Em 2006, o clube, que o nomeara seu presidente de honra em 2000,[2] voltaria a homenageá-lo, batizando de Estádio Alfredo Di Stéfano o campo multiuso da Ciudad Real Madrid, o centro de treinamento da equipe.[51] A inauguração do estádio, utilizado pelo Real Madrid Castilla (a equipe B do Real), ocorreu em amistoso contra o Stade de Reims,[51] a equipe batida pelos blancos com Di Stéfano em três finais internacionais na década de 1950.

Seleção(ões)

Poucas vezes por Argentina e Colômbia

Pela Argentina, jogaria apenas no ano de 1947, realizando seis partidas, todas pelo Campeonato Sul-Americano de Futebol do ano. Mesmo reserva,[52] marcou seis vezes.[33]
Di Stéfano defendeu três seleções diferentes. Por seu país natal, jogou pouco: foram seis partidas, todas no ano de 1947 (ano em que despontara no River Plate), pelo Campeonato Sul-Americano (precursor da Copa América) de Seleções.[33] Marcou seis vezes [33] mesmo com o técnico Guillermo Stábile, que no ano anterior o treinara no Huracán - onde o desempenho de Di Stéfano convencera o River, que havia lhe emprestado, a tê-lo de volta -, não o escalando como titular na vitoriosa campanha.[52] Pela Colômbia, estreou logo no ano de sua chegada ao país, em 1949, realizando suas quatro partidas pela Seleção Colombiana nesse ano, sem marcar.
Os dois países, entretanto, não participaram das Eliminatórias para as Copas do Mundo de 1950 e Copa do Mundo de 1954. A Argentina não se conformava por ter perdido para o Brasil a sede do mundial de 1950.[10] Ela alegava ter prioridade,[53] uma vez que já havia sido preterida de sediar os de 1930 e 1938 [53] e havia recebido a promessa do próprio Jules Rimet de que sediaria e edição de 1942, mas a Segunda Guerra Mundial interrompeu as pretensões.[53]
Tudo isso foi somado às relações nada amistosas da Associação do Futebol Argentino com a Confederação Brasileira de Desportos, devido a uma pancadaria na final do Campeonato Sul-Americano de Futebol 1946, em Buenos Aires: revoltados com as fraturas de dois jogadores, os argentinos cercaram e agrediram os brasileiros com socos, pedradas e até espadas, com a ajuda da polícia.[54] Apenas em 1956 as relações entre AFA e CBD foram retomadas.[55]
Por fim, na ocasião das eliminatórias para a Copa de 1950, o presidente da Argentina Juan Domingo Perón vetou a participação pois fora informado de que a conquista da Copa seria muito difícil, em razão da saída dos principais astros do país.[21] A proibição, por este mesmo motivo, manteve-se para as eliminatórias de 1954.[56] A Colômbia, por sua vez, estava suspensa devido à liga pirata, não podendo realizar, com isso, partidas oficiais. Os três jogos de Di Stéfano pela Seleção Colombiana foram amistosos.[6]

Ídolo de poucos resultados pela Espanha

Pela Espanha, estreou em 1957 e até 1961, quando faria seu último jogo, entraria em campo 31 vezes, marcando 23,[33] sendo o maior artilheiro da Seleção Espanhola até 1990, quando foi superado por Emilio Butragueño [57] - atualmente, está atrás também de David Villa, Raúl, Fernando Hierro, Fernando Morientes e Fernando Torres.[58] Ainda assim, traria a frustração de não disputar Copas: nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958, os espanhóis eram os favoritos para se classificarem no grupo que formavam com Escócia e Suíça.[59]
Dois resultados ruins nos dois primeiros jogos acabariam comprometendo a classifação: a Furia, mesmo com um respeitado poder ofensivo formado por ele, Francisco Gento, Luis Suárez e László Kubala (outro naturalizado), empatou em casa com os suíços e perdeu por 2 x 4 para os britânicos fora. Mesmo vencendo ambos por 4 x 1 nos dois jogos seguintes, acabariam ficando um ponto atrás dos escoceses, que ganharam a única vaga do grupo.[59] A Espanha também não conseguiu lugar na fase final da Eurocopa 1960. No mesmo ano deste torneio, em uma série de amistosos do país pela América do Sul,[33] ele enfrentou a Argentina: por ironia, a única vez em que atuou em seu país natal por uma seleção foi defendendo os espanhóis. No seu conhecido Monumental de Núñez, perdeu por 0 x 2.[33] Voltou a enfrentar a Albiceleste no ano seguinte e o placar se repetiu, desta vez em favor da Espanha, com ele marcando um dos gols.[33]
Ele, bastante veterano, teria sua oportunidade de disputar uma Copa no mundial de 1962. A Espanha se classificou na marra: precisaria passar pelo País de Gales e posteriormente pelo vencedor de um subgrupo africano.[60] Contra os galeses, os espanhóis venceram de virada em Cardiff com um gol de Di Stéfano a doze minutos do fim.[60] Em Madrid, La Furia abriu o marcador, mas frustrou os espectadores ao tomar o empate no início do segundo tempo e sofrer com a pressão britânica até o fim.[60]
O sufoco repetiu-se contra o vencedor africano, o Marrocos, vencido em Casablanca a dez minutos do fim por 1 x 0.[60] Em Madrid, os espanhóis fizeram um a zero e sofreram o empate. Di Stéfano trouxe de volta a vantagem aos 44 minutos do primeiro tempo,[60] sem saber que seria seu último gol pela Espanha. Na segunda etapa, os europeus fizeram 3 x 1 para logo em seguida levarem o segundo gol marroquino. Os mandantes resolveram, para as vaias da torcida, recuar e garantir a classificação, finalmente obtida.[60]
Foi no jogo de ida que Di Stéfano realizou o que seria sua primeira e única partida ao lado de Ferenc Puskás pela Seleção Espanhola.[33][61] Isto porque chegou ao Chile lesionado. Só teria condições de jogo a partir da segunda fase.[4] A Espanha chegou à última rodada da primeira fase para decidir a vaga com Brasil, precisando da vitória para avançar: somava os dois pontos de sua vitória contra o México, enquanto o adversário tinha três (os dois da vitória sobre o mesmo México e outro de empate contra a Tchecoslováquia, que também possuía três pontos por já ter vencido os espanhóis).[62] Os brasileiros venceram de virada e eliminaram prematuramente os espanhóis - deixando Di Stéfano sem o gosto de jogar uma Copa.[4] Os europeus deixaram o Chile com críticas ao trio de arbitragem sul-americano que apitou a partida;[63] quando os espanhóis venciam, tiveram um pênalti a seu favor (de Nilton Santos) marcado como falta, e a sequência da cobrança, que resultou em gol de bicicleta de Joaquín Peiró, foi anulada por suposto jogo perigoso.[63]
A última partida de Di Stéfano pela Furia fora ainda em 1961, em amistoso contra a França.[33] Embora se mantivesse em alto nível no Real Madrid, participando da série de títulos espanhóis do clube no início da década de 1960, não foi mais aproveitado pela Espanha por imposição da FIFA: a entidade determinara que a Copa do Mundo de 1962 seria a última vez que permitiria a jogadores atuarem por outro país que não o primeira pelo qual já jogara.[64] Pelo mesmo motivo, outros participantes daquele mundial também deixaram de atuar por suas segundas seleções: também da Espanha, o uruguaio José Santamaría e o paraguaio Eulogio, além do húngaro Puskás; da Itália, o brasileiro José João Altafini e os argentinos Humberto Maschio e Omar Sívori.[64] Com isso, Di Stéfano perdeu um provável lugar na vitoriosa Eurocopa 1964, ocorrida semanas depois de seu quarto título espanhol seguido e de ter sido vice-campeão europeu com o Real.
Em 1963, ele chegou a atuar também pela Seleção do Resto do Mundo que jogou um amistoso contra a Inglaterra celebrativo do centenário da fundação da Football Association.[2] Mesmo a falta de marcas mais expressivas pela Espanha não o impediria de ser eleito o melhor jogador do país nos Prêmios do Jubileu da UEFA, nas comemorações dos 50 anos da entidade, em 2004.[65]

Treinador

À direita na foto, comemorando como técnico do Boca Juniors a conquista do campeonato argentino de 1969 em pleno Monumental de Núñez, após um Superclásico.
Após um ano aposentado, treinou pela primeira vez uma equipe, o pequeno Elche. Ele, ídolo do River Plate, conquistaria seu primeiro título na nova função ironicamente comandando o arquirrival Boca Juniors no campeonato argentino de 1969. Foi inclusive uma das conquistas nacionais mais memoráveis dos boquenses: no primeiro semestre, os xeneizes haviam sido eliminados na semifinal do campeonato metropolitano pelo River Plate.[66] No campeonato nacional, a revanche dar-se ia na última rodada, em que os arquirrivais fariam um duelo direto pelo título.[66] O Boca tinha a vantagem do empate e sagrou-se campeão após um 2 x 2 em pleno Monumental de Núñez, listado entre os dez maiores Superclásicos favoráveis ao Boca pela enciclopédia do centenário do clube.[67] O clube também ganhou naquele ano a Copa Argentina.[66]
Seria campeão nacional novamente duas temporadas depois, agora na liga espanhola, pelo Valencia. Os Ches seriam a equipe onde Di Stéfano teve mais sucesso como treinador. Passou em dois momentos pelo clube; além do Espanhol de 1971 (que, para a alegria da torcida do Real Madrid, foi conquistado sobre os arquirrivais Barcelona, que alcançara os mesmos pontos valencianos mas teve desvantagem nos critérios de desempate, e Atlético de Madrid, que ficou um ponto atrás de ambos)[68] ele ajudou o clube a vencer a Recopa e a Supercopa Europeias na temporada em que retornou à equipe, 1979/80.[69] Entre as duas passagens, treinou o Sporting Lisboa, o Rayo Vallecano e o Castellón, sem conseguir títulos.
Afagando Daniel Passarella após ser campeão argentino também com o River Plate, em 1981.
Após as conquistas europeias com o Valencia, voltou ao River Plate em 1981. Ali, treinou boa parte do elenco que figuraria na Copa do Mundo de 1982, dali a um ano: Ramón Díaz, Ubaldo Fillol, Américo Gallego, Julio Olarticoechea, Daniel Passarella e Alberto Tarantini, além de Mario Kempes,[70] que fora seu jogador no Valencia.[69] Com eles, Di Stéfano foi novamente campeão argentino como treinador, ganhando o Nacional de 1981.[71] Ainda hoje, ele é o único técnico campeão argentino tanto com o Boca quanto com o River.[1]
Retornou então ao Real Madrid, onde teria nova experiência de treinar uma ex-equipe. A temporada 1982/83, para a qual veio, lhe terminaria desagradável; o Real disputou acirradamente cinco títulos e perdeu os cinco:[2] o Campeonato Espanhol na última rodada para o Athletic Bilbao, a Copa do Rei e a Copa da Liga Espanhola para o Barcelona, a Supercopa da Espanha para a Real Sociedad e a Recopa Europeia para o Aberdeen de Alex Ferguson.[2] Esteve novamente perto de ganhar o campeonato espanhol na segunda, mas o campeão foi novamente o Athletic, nos critérios de desempate.[2] Por outro lado, foi com Di Stéfano que debutaram pelo Real certos garotos vindos das categorias de base merengues que futuramente seriam decisivos para a equipe emendar cinco ligas seguidas, tal qual Di Stéfano ajudara como jogador na década de 1960: Chendo, Rafael Martín Vázquez, Isidoro San José, Manuel Sanchís, Ricardo Gallego e Emilio Butragueño, cujo apelido batizaria o elenco de Quinta del Buitre.[2]
A falta de títulos, porém, o tirou do comando técnico dos blancos.[2] Di Stéfano retornou outra vez ao Valencia em 1986, em um difícil momento do clube, que terminara a temporada 1985/86 rebaixado.[72] Conseguiu o título da Segunda División em 1986/87 [73] e ficou mais uma temporada na equipe, saindo por desentendimentos com elenco e diretoria.[39]
Voltou outra vez a treinar o Real Madrid em 1990,[2] após a demissão do galês John Toshack.[2] No curto espaço de tempo em que ficou - ocupou o cargo como interino, até a chegada de um novo técnico [2] -, ganhou seu único título no Real como treinador, a Supercopa da Espanha de 1990, com o especial sabor de ter vencido o Barcelona, e com um 4 x 1 no Santiago Bernabéu (após derrota no jogo de ida, por 0 x 1, no Camp Nou).[2]

Além dos gramados

Di Stéfano em uma vinícola, enchendo uma taça. O vinho foi um dos poucos itens da alimentação que ele não cortou após um infarto quase matá-lo em 2005. Foto de 1963.
Seu jeito é descrito como alguém tímido com homenagens,[1] e que não gosta de se enaltecer, preferindo usar a expressão "nós" ao "eu" ao narrar as vitórias que teve.[1] Vivendo atualmente em Madrid, continua lúcido e ainda hoje frequenta o Real Madrid, como presidente honorário e como presidente de uma associação de ex-jogadores. "A intenção de nossa associação é ajudar os jogadores que estão mal, e as viúvas daqueles que estão mortos. (…) Sou parte da instituição, como todos os garotos, cada um tem sua função aqui."[1] Em 17 de fevereiro de 2008, os presidentes da FIFA e da UEFA, respectivamente Sepp Blatter e Michel Platini, lhe homenageram nomeando-lhe presidente honorário da própria UEFA.[1]
Di Stéfano, ex-jogador das seleções de Argentina, Colômbia e Espanha, ironicamente, não tem nenhuma origem ibérica, nem ameríndia: seu pai, também chamado Alfredo Di Stéfano, era filho de um casal de imigrantes italianos e a mãe, Eulalia Laulhé Gilmont, de um imigrante francês com uma irlandesa.[2][74] Mas, curiosamente, era chamado de "alemão" pela torcida do River Plate, por causa de seus cabelos loiros.[9] Seu pai nasceu em La Boca, bairro repleto de imigrantes italianos e onde o River fora originalmente fundado,[75] passando para o filho a paixão pelo clube.[1] Isso não impediu Alfredito de também apreciar o rival Boca Juniors, que se manteve no bairro (enquanto o River mudou-se para o de Belgrano);[75] seu avô, nas palavras dele, "vivia a 30 metros da Bombonera, então ia visitá-lo e depois ia ver os treinamentos (do Boca) (…). Me sinto riverplatense, mas como tinha toda a família em La Boca, sou meio boquense, e não tenho inveja, nem ciúme, nem ódio, nem nada, é um clube extraordinário."[1]
Di Stéfano em 1963 com um de seus filhos, também chamado Alfredo. O pai do jogador também tinha o mesmo nome.
Seus pais também tiveram outros dois filhos: Tulio, que também jogou futebol, e Norma, que preferiu o basquetebol.[2] Em 1950, casou-se com Sara Freites Varela, com quem viveu por 55 anos até a morte desta, em 2005, e com ela teve seus seis filhos: Nanette, Silvana, Alfredo, Elena, Ignacio e Sofía.[76] Ele esteve perto de falecer no mesmo ano, tendo sofrido um ataque cardíaco.[77] Afirmou que desde então passou a cuidar melhor da saúde; já havia parado de fumar em 2000 e a única bebida alcóolica de consome é vinho, socialmente.[1] Também bebe uma cerveja sem álcool da qual tornou